Resolvi ser feliz por decreto.
Por que me entristecem ausências que há tanto tempo já faltavam?
Só por que proferi o fim de algo já findo?

Então fiz assim:

subo aqui nesse tronco caule árvore
comtemplo o infinito
e percebo que o tempo é uma convenção
que a linearidade é um engodo
e que tudo é circular
como a vida a terra e o disco solar

Vivo portanto o momento presente
que contempla futuro passado e imatéria
e permito que experimente
coisas improváveis:

vou vestir esse vestido por cima da calça
vou sair na rua semi-nua e ouvir fiu-fiu
vou comprar leite ao meio dia
e beijar até gastar a boca
não vou ter hora prá dormir
vou digerir os alimentos
vou ouvir luiz gonzaga com meu pai
vou alugar um novo apê
vou pensar a casa minha
vou lembrar dos gatos e em vez de chorar, rir.
vou pensar em flores inventadas
vou inventar novas palavras
vou fazer poesias com listas
rindo de mim
não vou ligar pros outros
vou comer trufa de hortelã
vou experimentar goiaba
vou treinar pensar baixezas no meio do trem
vou gravar cds de amor
vou lamber sovacos e pescoços
vou viver um pouquinho de cada vez
vou não caber em mim bem devagar

vou ligar quando e quanto quiser
vou amar os meus amigos, mesmo que eles não me amem agora
vou comer carne vermelha e fazer sexo
vou rezar pro anjo da guarda
vou me proteger da intempéries
vou ser um tufão-maremoto com amor

vou voar e saltar e correr e pular e ser tudo qui que sou:

Parluizindo, como um luzin dourado
cheio de micântios em volta
e evelises
evelises
evelises
Que dia é esse em que passo, torpe, criança?
Que sol é esse que queima meu rosto?
Sinto os olhos dos outros em minha nuca estrela.
Sinto o queimar dos olhos dos outros
em minhas ossudas asas.
Quando finalmente nascerão as penas?
Quando fatalmente largarei o rastro ancora chão
voarei enfim ao largo do dia
não perto do sol
não longe de Vênus?

Senhora Afrodite
Parteira dos meus dias
me guia
Guia
me guia?

Dá-me tua mão e segura?
Leva-me daqui donde dói?
Guarda contigo os domingos de ócio
(o sol brilhava lá fora e nada de sair de casa)
devolve-me as esperanças
a imaturidade do largar-se

Este é o preço do vinco no rosto, senhora?
Doer sem fim e não largar?
Me largar?
Ou é só a carapaça dos dias?
A rigidez de Apolo onde sempre tão Baco?

A dureza de minhas patas de leão,
O olhar dos meus esfingícos olhos
as asas depenadas
as patas prontas ao salto.


Vai


Salta.

Salta, Helena, deixa consumar o rapto.
Olhava-te
Não como se olha um lírio ou um acalanto
Olhava-te curiosa:
Donde brota tanta força?
Retraio:
Donde vem tanto amor?

Não olhava como se olha um lírio
Não um acalanto: um broto.
Olhava-te com os olhos desentos

Pudesse encravar minhas escápulas descarnadas
Nas tuas asas de ferro e chumbo
Ou as ancas pontudas nas tuas coxas
Ainda: meus ossudos pés
nas tuas raízes de árvore-tronco.

Mas simplesmente olhava-te
Como se fosse eu o lírio-acalanto
E fosses tu a admiradora de flores

Olhava-te como se tua imagem
Aumentasse o que serei
Como se meu desejo já fosse realização

Olhava-te
Como agora olho perto
Como estando agora dentro.

Como quer o AMOR (que guia):
Sempre
Senhora,
Tens que girar o mundo tão rápido que não acompanhe?
Tens que virar assim minha cabeça
Que não respire?
Não podes rasgar minh´alma em dois para que sinta
Jubilo amor dor medo felicidade tristeza alegria saudade?

Olho para trás
No momento da curva
Já ali nasceu uma ruína
Já nasceu velha, antiga e linda
Bate um sol gostoso e sei que há encaixes.

Olha para frente no caminho em que agora ando
O forte sol do meio dia me cega
De força, de luz.
Queima
Arde
Insaciável.

Antevejo flores e peça que sejam aquelas que sonhei
Lemosins, micântios, trevores, locorias, pândicas,
fidunídias, dinótares, coloríneas.
Vejo luzins por toda parte
E antevejo o mar onde desemboca a estrada.

Que fazer?

É trilhá-la.

Nunca me abandone, senhora.
E apareças em sonhos, ou em dias como este.
De sol brilhoso.
solidao no sinteco. Posted by Picasa
Ela dizia que tinha gavetas no lugar de cabeça.
Eu tinha oceanos.
Ela dizia: vc erra assim.
E e errava pelo mundo.

Ela dizia que não ligava
prás coisas que me eram caras,
e que eu abafava as dores das águas.

Ela: cérebros e crânios espaçados
com um tanto de amor entre eles
Pele na pele, lutas.
Por que só uma? dizia
e me surpreendia com libertações.

Ela aceitava meus ossos e pele.
Ela ria das minhas insutilezas.
Abafava meus maremotos.
Aplacava minhas doenças.
Aceitava minhas mágoas.
Felicitava-se com as horas ao meu lado.

E eu sorria de amor e glória.