Anos sem que uma linha saísse de mim
Por que dizias: o que escreves de mim?
Senhora!

Nada o que escrevo é sobre outros
É de mim que partem as horas
Sobre minha dor, falo.
Como falaria eu da tua?
(nem mesmo este te alcança)

Queres que te diga que cantei loas a outras?
Não.

Ando casada com a solitude forçada.

Me sinto só por dentro de mim.
E esfinge, redobro novamente em duas:
a contemplar de cima do mar,
a dor dos oceanos;
e debaixo deles ver
a leveza dos céus.


E por isso instável: hora sou eu
e hora sou eu-outra.
E raro ser outra e eu
(e é daí que saem os escritos e
tenho que aprender a nada ser
para escrever linhas a ti ou a qualquer um.)


Porque
egóica
individual
solitária
rondando em volta de minha pata de leão
centrada meu umbigo
no meu mundo
(já é vastidão cada ser);

Olho da láctea via do céu:
miro a dança oceânica das marés
me levam de cá para lá e de volta
jogam-me com as forças plutônicas.
E das profundezas abissais vejo:
eu dançando com as estrelas
em amor e regozijo;
há flores pelo cosmos
que olham e miram e
riem e dão sorte.

E quando vejo uma já sou outra,
E quando outra já sou uma
E nunca Una.

E é por isso
Que poucas vezes saem escritos
de uma alma que não consegue
ser o que vê
e nem ver o que é.

Inteireza,
Vem.
Aporta.
Estou pronta para ser também horizonte
onde mar e céus se encontram.
estou tão feliz que
deixo doer em paz.
dalias Posted by Picasa
Acordei pensando em dálias
Não acordei: saltei da cama
Duas horas antes do despertador
Minutos após o sol.

Voltou a meninnice de sair correndo da cama
prá fugir do banho (que eu mesma me obrigo)
E programar o dia todo,
cada segundo
só prá depois furar.

(adoro quando não vou nos compromissos próprios:
sei que não fui prá tomar um café comigo;
então
furo comigo
só prá usufruir de mim)

andei por toda a nova rua
novo bairro
fiz velhos amigos

olhei prá casa ainda nua
e já transvi vestida
com as coisas importantes dentro:
amor
gatos de casaco
cozinha de bruxa
amor
amigos
velhos e novos
mais amor


e


dálias.
Muitos anos se passaram nessa semana
Por entre os séculos seculoruns
Por entre as frestas de choro e riso
Por entre becos de amor contente
Eu escorri.

Sou aquela que escorre do tempo
Escapo das minhas próprias mãos
Pelos outros chegam as notícias sobre mim
Que sou brava um tanto doce
Que sou névoa, enigma
Ou clara, gata, fofa
Engraçada, inteligente, sagaz

Que fiz isso ou aquilo com aquela

Por trás de tudo
eu
tentando
escorrer os dias
até que os anos que se passaram
passem.
Doem-me as vísceras
Dói tudo

Arranco do peito o passado
Para abrir-se a flor
A quero linda.
Reinventando-se
Descobrindo-se ao meu lado
(enquanto descubro eu quem sou e serei)

Fruto flor que agora semente
Precisa pouco prá árvore: tempo
E essa ilusão é a única que não controlo.

Não mais bifurco: enfoco
Pode uma esfinge sem enigmas?
Serve-te uma serpente espiral?

Vazia agora estou
Suspensa no meio do salto
(Surpresa em meio ao rapto)
Indiscretamente feliz.

E caso encerrado.