Doía.
e larguei os dedos prá escorrer de mim a dor
no papel, não na tela.

Doía tanto.

Ela num canto, dança.
Eu, numa dança-canto.

Vale a pena decifrar esfinges?
vale, moça senhora sentada na minha vida?

E eu aqui, com as duras patas de leão
e as lamúrias de séculos sem mim.

Onde andei?
Onde foste.

Te procurei tanto pela casa.

Doía, doía muito.
feliz por decreto
decerto
com cicatrizes brilhantes
das palavras ditas na tempestade do dia.

e tal tal sombrinha tempo.

olhando as patas sagradas de esfinge
as asas atrás dos crânios
as escápulas novamente carnudas
as velhas lutas
as novas labutas
(e um esgar por rimas ruins)

se eu estou tão pronta para o vôo,
por que as patas falham no impulso?

dragão, sinto falta das tuas escamas.
ando nesse transe-vida
fazendo minhas opções por mim
fazendo minha opções por ti

não posso abandonar o que fui
(nem quero?)
mas posso transformar o que sou
almejar o que serei

a arte transmuta o dia.
Tenho medo das palavras sérias
E não sei quais não são.

Tenho medo das brincadeiras ferinas que saem da minha boca

Tenho medo das dores da outra:
(não há um dó sem dor?)

Conheço os caminhos luminosos
E conheço os sombrios
e em algum lugar de mim
o medo se ri e me dá a mão.
(chegando os dias de meus anos
e eu tentando comemorar nascimentos e celebrar vida
com esse costume nefasto de depressão pelo mundo
já vem um choro na garganta de pensar
já vem o pedido: pula o onze, meu deus, pula)


aí descobri assim:

danço sozinha entre a vida e a morte
com minha estúpida sombrinha tempo
numa linha tênue do aqui e acolá
roda o tempo
gira do mundo
e eu dançando!
no redemoinho
com o tempo na mão
e as chaves na outra
acerto o compasso
entro no tom
ressoo no tempo
não há sofrimento
há dor e felicidade
eu dizia a ela, bem calma:
olha em volta
e respira


todo dia só assim bem simples de uma vez só sem nada mais a acrescentar:

olha em volta e respira!

o mundo já existe há muitos minutos anos séculos
e era criado ali
batia uma onda-mar

(eu vi nova iorque pela janela de mim, iluminada. O que é olho-nu?)

e era só olhar

e respirar

o amor é
(retumbância)


respostas prá perguntas que eu não tinha pensado.