Ela se move como se fossem dela
os meus minutos
(e são)

Me olha num rito repetido:
joga um beijo de longe e pisca
sei que não me quer por lá
enquanto fecha a casa sobe o muro
e limpa os mortos
com esmero tal que me desespero:

"amor, o corpo é carne e serve só de vaso
prá que tanto bálsamo em cadáveres?"
e ela limpando a casa-alma,
me jogando protocolares beijos
significando talvez:
amo-te, por isso não se aproxime.

ela tem lá suas lógicas


e eu


respeito.
Era um primeiro último
Eu contemplava o futuro incerto
e todas as mudanças que ocorreriam no átimo de tempo

Desacreditada de passagens como essa
aprendi ainda menina que valiam
mais meus sonhos em minhas horas de sono
em celebração extásica.

Amo em silêncio os gatos a casa a vida
os que me cercam (também silenciosos)
celebro os presentes os dons as dádivas
inauguro quem sou todos os dias
porque deveria reinaugurar num último dia
o velho hábito das águas

levanta-te senhora dos mundos
e me abençoa com tua luz graciosa
e me queima as águas do rosto.
do alto dos 28 anos contemplo a última manhã rançosa.

profetizo: tudo será diferente agora.