porque o conteúdo seria denso
(caso eu resolvesse falar)
me calo
como,
não falo,
formulo na formalidade.
sintética, precária:
limpando a imensa fenda
da perda da batalha.
se fugiste do trono-coral
do meu mundo subaquático
desmuso-te, ex-musa
expulso-te do imaginário
se não aguentaste golfinhos
e sereias, profundidades poéticas
o lirismo incomedido
o amor sem hora certa
o arrebatar do verbo
a figura não-concreta
por que hei eu de gastar a verve
com quem não ama a poeta?
contenta-te com minha presença
pacata, emudecida, serena
perene e transmutadora
(que eu me virei sozinha
quando viraste as costas
e bem atriz (minha lilith encantadora),
me fiz
de
engolidora de sapos
administradora de micos,
enforcadora de vacas,
alisadora de gatos,
passando por buracos
vexames, exposição
que de nada valeram além
de uma bela lição)
então
monta no cavalo branco do teu príncipe encantado
e aguente ser só figurante do meu poético reinado.
(não que sofras: palavra é galgada do amor
e deste tipo não sei se cultivas, se semeias com ardor
ou se és aprendiz de rasuras, dessas de dar enjoo a divas
dessas que parecem tudo, mas que são coisa à toa:
estão na beira e não aprofundam,
no barco se perdem na proa)
não era melhor me calar?
fecho a boca com café
e volto pro meu lugar.
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