Uma mulher caminha
num
vasto deserto
Talvez
seja uma praia
Ela
não sabe
Nem
eu
Pois
estamos cegas.
Tudo
o que sente sob seus pés
é
areia
é
fina
é
quente
Talvez
branca
Ela
não sabe
Nem
eu
Pois
estamos cegas.
Areia
entra
por
seus dedos dos pés
Que afundam na
sua brancura imaginada
Cada passo um
novo encontro
Areia
imaginadamente branca e
pés-pós-pés.
O céu é frio.
Venta.
Talvez seja o céu
Azul arroxeado,
Ou
verde e pálido,
Ela não sabe
Nem eu
Pois
Recusamo-nos a
abrir os olhos.
Ela crê
(eu não)
que o céu
transmutará em púrpura
mesmo que não
possamos vê-lo
e prepara-se para
tornar a enxergar
quando eu avistar
que assim é.
(ela não recorda
que também eu estou cega)
ela encosta seu
peito ao meu
antes chamávamos
plexo
encosta então
plexo-com-plexo
mas não enlaçamos
os braços
abertos
e o reflexo no
oásis tempo
seria bonito, se
pudéssemos ver
mas ela não sabe
nem eu
pois já disse:
ambas cegas.
Do outro lado do
mar, se pudéssemos ver
Saberíamos: uma
nau cruza o oceano
Guiada por
estrelas mutantes
Imutáveis
catedrais são erigidas
E o homem não
redime o homem.
Mas ela e eu
Mulheres somos.
E cegas
Por desventura da
teimosia
De não
olharmo-nos.
(Já é outro o dia
agora
E sei que está
perto do púrpura celeste desabar sobre nós
Tenho tanto medo
Que não cabe
nessa poesia
E por isso
permaneço na cegueira)
Ela então abre os
olhos -
Ou talvez eu
tenha os aberto primeiro
Não sei
E acho improvável
a coincidência
De termos as duas
aberto juntas
- e como
estávamos, como ela disse -
plexo-com-plexo
tudo o que vemos
é o ciclópico olho uma da outra
e isso nos parece
todo mundo
esquecemo-nos
da branca areia
do céu purpúreo
da praia
desértica.
ainda cegas,
vendo os próprios
olhos do tempo.
Precisou que
aquela outra viesse
E nos narrasse
Em terceira
pessoa do plural
e fizemos
nós
enlaçamos os
braços
e areia
céu
e deserto
pareceram certos
em expulsar-nos
por ter profanado
e visto:
o céu que era
branco
a areia púrpura
e estávamos
sós
nuas
e
loucas
numa pequena
bacia de ágata azul marinho
numa cidade
qualquer
que
também
cega
não nos via.
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