para de me pedir pra não chorar, porra!
você não tá vendo que tudo corta?
que tudo machuca?
que trocaram minha pele por um tomate descascado
que palavra tua fura, por mais que metafórica?
faz um favor
pega a sua metáfora e se meta fora daqui
que eu não me intrometo na tua vida.
e não me pede pra não gritar.
Por que eu eu vou te obedecer se eu pedi:
não vai mais, vai só até aqui porque hoje eu acordei
sem aquela pele de mamute que vesti?
e agora você faz o racional
e manda eu me controlar?
Não controlo, nem você me controla
Mar não tem controle, nem remoto
mar só tem maremoto.
Então não me inventa que eu não vento
Eu não tinha o intento de gritar
te pedi mansinha: vai devagar
que eu saí de casa com o coração fora do peito
e não tem jeito de ele pra cá entrar.

Você não vê que não é você?
Que eu to chorando por tudo, até pelo leite derramado
Ai fica fácil você dizer que não queria me fazer chorar
NÃO FOI VOCÊ
Mas se não quer que eu te sopre
se não quer que sobre pra você
da área, da espaço, me deixa me debater
sozinha porque se eu não danço até morrer
eu me pinto de demônio-escarlate
e apareço na tevê cometendo um atentado
pedindo de fiança tua alma
sem salvação pra rende
na poupança do meu ódio.
Eu estraçalho seus bagos
frito em azeite português
sirvo numa tamanca
com bacalhau e vinho.
Depois saio pro aí dançando o vira
bem de cara virada numa pomba gira

Viu só?
Pedi pra me deixar chorar em paz
e fazer cena clichê
escorregar na parede soluçando
sozinha sem ninguém ver
mas você quis ser razoável
conversar e se entender
não quis me atender.
Agora pronto.
to suuuuuper melhor.

E você?
meter a mão ao peito
meter os pés
meter-se em nãos
meter os pés pelas mãos
confundir-se com a turba na escuridão
é meu fardo-sina e senão
ofender-me facilmente
macular o coração.

meter a mão ao peito
com um tanto de amor
entre os dedos
com paixão
lavar cada átrio
da casa-coração
cada dia um pouco mais fundo
tornando-se infindo
e sem cor ação
(é púrpura, é voragem, é transmutação)

eu me magoo com tudo
eu nada relevo
eu me assusto com o vão
entre o que penso
e o que é minha ação
porque falha, torpe, palavrão
atordoante, feroz, RE ação
então
cubro-me de impropérios cortantes
quero ferir meu irmão
mas calo, limpo choro

meto a mão ao peito
e revelo
relavo
até
que
releve
não reajo
me calo
e
um dia
vira perdão.