vermelho e verde me apareceu
demoníaco sinal de morte
mutilação fúnebre
medo inconsequente
dor
cabeça num turbilhão.
olhos boca coração
o peito não abarca
o medo
faz um arco e te pega pelos pés
a frustração
o mundo não é como eu queria
(se se fosse tão imperfeito seria
quanto é imperfeito meu sonho)
meus sonhos sonhos são
a realidade intangível
o mundo ilusão
e meu corpo dói
como se mil nãos
fossem proferidos
na escuridão
a noite quente,
então se desfaz em choro
e furacão
não faço cena.
não digo palavrão.
só deixo a noite escorrer pelas mãos.

quando tudo passar
talvez entendamos que tudo
não passa.
e que o passado está o tempo todo presente.

(o desamor
escorreu por entre os dedos
e jogamos cal em cima
o caos por cima
dos ombros
acusávamos do que não podíamos
me dávamos o que não tínhamos
recusavamo-nos a ver
quantos dias e noites já havíamos
eu cruzado na sua agonia
ela a cata das minhas misérias)

(eu temia o looping.
eu não quero ficar sem ela)

ela sabia que me tinha em suas mãos
eu não teria de reaprender a viver
sem ela
(só de escrever já dói)
teria que reaprender os passos
os caminhos
o amor já tinha seu cheiro
os dias tinham seu ritmo
meu relógio contava suas horas
mas na hora do desamor
era isso só porque eu queria

estou prestes a me jogar
na aventura total de um dia ser
o que nasci para ser
o que lutei pra ser
e era você
e só você,

que queria ao meu lado agora

mas tudo irrita
e quando tudo passar
já será passado
e você já não esteve aqui
nem eu aí.
eu estive aqui
com um tanto de terra nos olhos
com um tanto de amor nas mãos
segurando firme meu coração entre os dedos
enquanto ele quereria novamente
encaixotar-se no mar

um tanto
a espavento
penso:
seria esse
realmente o momento
de jogar tudo aos quatro ventos?

desejo
tensa
que
nisso
você
nem
pense.

Deus olha pros lados em dia ímpar
Nos dias pares,
conjuga casais.

Nos dias de chuva,
Deus aproveita pra sair
na São Paulo atordoada
a trovoadas
pois só no caos
Deus pode contemplar
o homem em sua magnitude:
sua obra mais
Divina
De ir e vir na
rua molhada.
Nos dias de sol,
Deus fica em casa.

Deus é o próprio sol.
então
em dias de trovoada,
o sol se molha.
o Deus sol, olha
Deus só se molha
se preciso
for
só se
for
formoso.


Deus é curvo.
Deus é circular.
(por isso Deus anda por aí em tantas coisas repetidas)
A chuva estanca a cidade.
A vida foi suspensa
de tanta boniteza
Deus pensa:
é por essas e por outros
que, as vezes,
ser Deus
compensa.