amanheceu-me girassóis
tomando lugar no peito.

num dia ensolarado
eu num escuro,
iluminada da sua lembrança.

anoiteceu
eu nem vi
fabriquei um sol em mim
com a réstia do seu cheiro

a noite
deitada
fiz um sol em mim
desenhado de carmim no peito
com efeito
era batom
mas bastou
pra te manter em mim


acordei antes do dia
e o sol carmim
nasceu 
no meu peito borrado
a cata do peito seu.
o amor pegou-me pelo pescoço
eu dei-lhe minhas mãos
para que as pegasse.

o amor veio de novo
e me derrubou.
eu levantei.
disse-lhe: toma minhas mãos.

o amor insistiu:
puxou-me os cabelos até o chão
pedia aos berros para que eu o soltasse
(mas se não era eu que o prendia!)
eu nada fiz.
esperei que o amor, embaraçado,
se soltasse e disse:
por que não pega minhas mãos?

 o amor estava cego
e surdo
em surto
o amor não dormia há dias.
(o amor estava insone)

o amor se debatia no aparador da cama
ao lado do copo d'água
que refletia um pedaço de céu.
sem lua.
(uma não lua num não lago)

o amor não me deixava dormir, insistia.
eu olhei o amor nos olhos.

e
eis aqui minhas mãos
toma-as, coloca onde quiseres,
deixa-me solta.
anda lado,
alado
comigo: voa.
que você possa vir
com calma
e que não doa.