Talvez o fim, recomeço

Quem eu amo está triste.
Penso se sou eu, com minha tristeza infinita que a contagiou de finais.
Mas não tenho sido triste.

A vida está corrida.

Os dias passam rápidos, e os que passam devagar demoram.
Demoram pra chegar


e quando chegam não parecem bastarem-se em si mesmos.

(Houve um tempo quem que eu podia estar com ela só, sem ninguém, por horas dias anos.
Agora não mais. Agora aparece um buraco)

Ela pensa em fim. Eu recomeço.

Não sei se ela me ama, não sei se sou aquilo que ela ama, não sei o que ela ama em mim.
A estabilidade dela talvez me passe rasteiras diárias.
Vale-lhe mais o cotidiano do que minhas intempéries, talvez.

Talvez ela precisasse de uma outra, não eu, não assim, não sem ossos.
Não tão pronta pra voar.
(Por que ela não veste minhas asas de sonhos?
Por que ela não veste as asas dela, que já antevejo tão lindas e brancas.
Ou verdes, como a cura que vem lenta, cicatrizando por dentro, por fora, pelo passado e pelo futuro.)

Eu quero viver com ela por muitos anos.
Não sei se ela aguentará minhas tormentas.
Não sei se suporto o chão.

Eu a amo.
Ela também.
Eu sinto, ela sabe.

Rocha com pontas, às vezes vasa mel.
leite e um pouquinho de dor.
Queria poder lamber a dor,
e que tivesse prá mim gosto de leite e mel.

Mas não.

Não lambo: não há como penetrar a redoma da cabeça dela.
O crânio talvez.
A simbiose que me é fácil, clara,
é dura e evitável prá ela.
Dói um pouco.

Talvez fim?

Penso em reinícios.

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