dorme dentro de mim um dragão
vastas escamas em chumbo
olhos amarelos em risco
reptilianas asas:

quando acordo esse moço
me olha com olhos embaciados
me sacudo leve de mim
para não despertá-lo

quando devoro,
ele de ventas flamejantes
morde nucas, prende o ar
faz cena de ninar
faz comentários bobos ao meu ouvido

qdo durmo ele acorda:
caminha pelo breu noturno
é notívago meu dragão
sobrevoa a cidade a procura
de aplacar minha solidão

mas ai!
se encontra o dragão
uma alma perdida
um gêmeo desamparado
um filhote esquecido no beco
o traz o dragão à casa e lhe dá de mamar

de tanto peregrinar o dragão
esconde amores pelos armários
finjo que não percebo
quando eles ronronam na noite.

por vezes na insalubre busca
ele me persegue também:
estou eu à deriva na rua
em consonante busca de alguém

quem sabe um dia, por pena
o dragão me traga ao meu quarto
e me trancafie no armário abarrotado de impossibilidades.

ficaria eu trancada em mim
e o dragão à solta
livre para salvar
as almas dos peregrinos.

Um comentário:

InFernando disse...

Agora moro num sobrado. Faz frio.