Fui te abandonando aos poucos, coração
primeiro me livrei de toda a ternura
porque olhavas tanto pra tua própria lua
que obscurecias minhas passagens pela rua
nada do que eu dizia fazia sentido
e tão sentido coração ficava quando fazia
que tu, coração repartido
por um esgar de sonho te ressentias

depois abandonei os sonhos futuros
porque sempre foram sonhos inseguros
comecei em volta construir os muros
que agora te seguram, coração caído
e tu, coração, no escuro apalpavas
tentavas, roías, brotavas
e os muros, que dantes te protegiam
agora te prendem ao que te cercava

com o tempo também a memória
de ti ,coração, foi olvidada
apartada como um trecho da história
que outros viviam e eu só recontava
e enquanto, coração, eu me inundava de poesia
e a poesia de mim transbordava
tu a mim coração te agarravas
pra ver se nunca mais tu partirias

e partido foste embora coração
expulso da caixa tórax que te sustentava
agora andas errante pelas luas
que por hora te servem de morada
e quando for lua nova, coração partido
e tudo estiver escuro por completo
te espero, meu amor cingido
e que o céu te seja um bom teto

e do que ainda resta de memória
coração, que só guardes de mim afeto
que se emancipei do peito tua saída
não foi por não te querer por perto
mas porque havia de abrir espaço,
coração meu, no meu peito manifesto
pra esse lirismo que me acometeu
e eu aceitei, coração, sem protesto

Um comentário:

Dilma disse...

Viva a palavra: PALADAR, E provemos sempre bons escritos.