o coração bipartido afogado em marés estranhas
coração não compreende
infeliz mente
porque coração não tem mente,
coração não mente
só está
duas vezes ido
despreparado
desnutrido
duas vezes parido
repartido
reparado
retorcido

coração debate
se debate
sede bate
cede, bate
bate um dois três
pedindo auxílio:
numa garrafa irreal inscreve aflito
um socorro sofrido
em líquido vermelho vivo

lá de dentro do armário submarítimo
em oceanos siderais distantes
avista o olhar cósmico intrigante pungente, constante
(as enormes janelas de soslaio fingindo que se foram
mas ficaram e percorram o caminho dolorido da perda.
Mudaram por dentro, as janelas.
Cresceram? Transformaram-se)

na fresta perdida do coração rebelado
o coração já não sabe nada
e coração não sabe nadar
pra sair desse azul fechado
lúgubre lugar em que foi enfiado
enfiou-se por que não fia em si

ela, janela intrincada com paciência recolhe os cacos
do coração quebrado
com as precisas mãos de água
limpa lava, escolhe cada palavra.

tem paciência de janela e abre as comportas.

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