III.
A mulher que caminhava está seca
O deserto a inundou.
Eu permanecia na praia.
a areia densa nos separava.

Ela abriu os olhos
e eram dois olhos de pupilas brancas

descrevê-la é prever um deserto
suas mãos com sulcos secos
como galhos invertidos
suas têmporas riscadas
como dois figos abertos
e seus malditos olhos brancos
ausentes de alma
não andava
nem sulcava a areia
quase como que flutuava
uma lagarta centopeica
uma gosma cósmica
verde-reluzente.
quase puta, quase louca
rota
a morte a solta.
fria, seca, magnética.

eu a olhava com meus olhos de água
ou de anis estrelado
duas órbitas, duas luas
límpidas e nuas.

entender-me é antever um mar
minhas longas saias de ondas
ausência de pés
longas nadadeiras
brânquias por pulmões
não nadava
quase que flutuava sobre as águas
de messiânicas paragens.
Quase santa, mas nem tanto.

duas potestades
duas fundações
nascimento e morte
sem função ou ministério
vagando apenas
em seus profundos mistérios

Um comentário:

Luis Fernando disse...

Que inveja a mulher inundada de deserto sentiu dos teus olhos de água!