Sobre Trilhos

Eu tenho uma hipótese sobre o estudo da natureza humana a partir do comportamento confinado dometrô/trem (em tempo: trem é metrô?) Mais do que no ônibus, que permite um certo jogo compartilhado devido ao seu diminuto tamanho (em relação ao trem, claro) e divide a atenção com o trânsito, a rua, os transeuntes; o metrô e o trem concentram o humano numa caixa fechada por um bom período. Nesse lugar (que nem bem é um lugar, porque se move, mas também não é um não lugar, porque por dentro dele é parado), onde não há o que fazer e nem o que ver (você dirá: "o trem tem sim paisagem! Não é subterrâneo!" Mas eu lhe direi que a paisagem é: fundos de galpões sujos, muros, grades, costas de favelas e trens mortos, o que nao é atrativo como a diversidade visual do Largo da Batata as cinco da tarde...), e no final das contas é só uma caixa transportadora, eu passo mais de três horas semanais (tem gente que passa umas doze!). É mais doq ue eu passo no bar! (as referências mudariam se eu fosse boêmia).
Cada um se comporta de um jeito. A maioria, como é cedo (são oito horas da manhã), dorme. Dorme não, cochila, pesca, se coça, encosta, dá uma babadinha. se limpa, confere a estação. E dorme. Dorme não, cochila... Tem um cara atrás de mim que está trabalahdno via celular. Não dá prá saber direito o que ele faz, talvez seja muambeiro. Ele se espalhou no vagão como se fosse seu escritório. suas coisas nos bancos opostos a sua frente: sua mesa. Ao seu lado tem um copo de café! O celular toca. O cara do lado dele, dorme. Dorme não, cochila, pesca, olha feio pro executivo muambeiro, a cada "sim, pois não", e a cada toque de celular (é um toque chato... parece um ataque super sônico de mariposas). Talvez não tenho dormido a noite. Tem cara de baladeiro. Do outro lado do vagão, na outra ponta em que estou, um menino ouve walkman. Bate o pé as vezes. Quase cantarola. Parece que a qualquer momento vai levantar e sair dançando. Acho que é hip hop.
Olha em volta de novo. Um rapaz olha prá mim, fixamente. Não tá me paquerando não, mas é que eu estou escrevendo num caderninho meio embolorento, mesmo com os tremiliques do trem. A letra falha e eu insisto.
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O que será que isso diz de mim?

Um comentário:

Anônimo disse...

Que deliciosa observação! É verdade, eu também escrevo no metrô, mas aí é mais fácil, não tremilica tanto como o trem...