Não é assim não, garota,
Porque me doem partes intocadas.

Talvez não tenha nenhuma parte do tórax
por dentro ou fora
que alguém já não meteu a mão.

resolveste agora meter-te onde?
Na cabeça, crânio: também já lá foram.
Nos pés, também já se enfiaram.
Por que brecha desejas entrar, se ando plena?

Plena de mim, plena de nós.
O que queres? Placidez?
Dou.
Loucura? Tenho de sobra.
Maremotos? Sou.

Que esperas então, menina?
Que sejas suficientemente mulher para ter-me?
Que volte eu a ser menina para amá-la?

Ando cansada das ondas do tempo, pequena...

Que importa a mim se nesta vida calhamos de nascer assim
mulheres de diferentes estaturas
iguais nos medos de pé no chão
identicas no modo de correr?
Que importa aos outros se somos
suficientemente livres
para nos amarmos em silêncio?
ou ainda gritando em plena avenida:
duas pernas entrelaçadas
e no meio fio, amor.

A quem importa?

Disse-te outro dia que eras uma
e não a
e disse-te que no momento eras a
e não mais uma
disse-te: movo-me pelas controvérsias
do verbo
pois não acredito nele.
E disseste que deverias sentir
falta de algo de mimo
Que não poderias ser assim para sempre
Que devo portanto não amá-la um pouco
para que se saiba amada.

E foges de pés descalços com evasivas
sobre a vida cotidiana
sobre tu e sobre mim.

Escapa-me dos dedos
sobra, derretes pelas farpas.
Dou-me como barganha.


Aceita.

Um comentário:

Anônimo disse...

"E por não haver palavras suficientes, os aplausos vieram."
(Ana Rüsche)