A verdade é não sei o que fazer
com essa pele de mamute que vesti.
Não sei despi-la e não sei usá-la.
Só o que sei  é me enredar em seu particular novelo de especificidades.
Só sei me aconchegar em seus vastos longos pelos
e cantar a velha milonga dos paquidermes antes de dormir.
A pele de mamute escava-me os ossos, as lágrimas, os dias.
O mamute já se foi
e deixou-me essa herança morta.
dobro-a, escondo de estranhos
mas qualquer um que penetre a casa
já antevê o couro corroendo
cobrindo os móveis mais delicados.
É ainda mais terrível quando anoitece
e a pele recorda seus dias de glória
no lombo das manadas furiosas
e então me debato amedrontada
e tenho pesadelos.
A pele de mamute anda gasta
poída, doída, tripartida.
mas se não sei mais usá-la
não soube nunca tirá-la
só sei amá-la, pois me aquece no inverno;
e odiá-la o mesmo tanto
quando rompe a primavera.

3 comentários:

Dilma disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Dilma disse...

Dói muito quando nos tiram o que chamamos pele...Sempre bonita!

diogogranato disse...

Encontrei sua nova pele em formação hoje, na Iloveyou Sampaio!