Vejo vinco em meu rosto: não estava aqui
(é tema recorrente da vida: sua passagem)
Apalpo as costelas, que antes não tocava
e das escápulas brotaram asas.

Voei, portanto, não tão perto de ícaro,
não distante de dédalus,
com a esfíngica cabeça em apolo
e a terrena cauda em dioniso-baco.

De cima, nas horas fartas de janeiro,
contemplava o mar de impossibilidades
e gotejavam dos olhos as dores procuradas

Dizem:
Venceste a tudo e a todos,
venceste ti mesma
e a paga é:
a exaustão radiante do trabalho quase feito
o desespero calculado do porvir
e esse vinco aí em teu rosto.

E se tudo se resume a essa marca
que revela os quase trinta anos atravessados
que apareça o vinco, a marca, a ruga, nesga,
que retorça a cara, afete, desfira, fira,
que mude, transforme, escorra, reluza

que a mulher se apresente assim:
eu.

2 comentários:

Anônimo disse...

Adorei esse poema!! :)

Anônimo disse...

Apavorei!bjo.adorno.