as coisas perdem a pose
as palavras fazem poças
e eu,
pensando- me em posse de mim,
saltito por elas, desvio

(é possível marejar águas turvas
e eu
passiva -
passo
rasante)

pode ainda ser pior:
se tropeço
piso na
poça-palavra-da-alma-mal-cuidada
rio-me logo da poça-lago
cresce amedronta arde dói
rio-lágrima (também)
empoçada por dentro

é água tanta que
a poça,
aposto,
já se foi
e agora
a regra
é a ilha
o tronco
pedaço de pau a boiar

por um fio seguro (-me)
e a mínima boca não se apossa do ar
pulmão embotado se opõe ao dia de sol
(tinha uns dias assim com você ao meu lado?)

(o coração dependurado pela boca
pede guarida desesperado
àquelas que já impingiram tanta dor
e hoje já olham serenas para quem agora sou.
depois de um tempo acalma
a dor
a d o r m e c e
-quase se vai-
fica só uma marca:
amor)

mas se
- disseram-me -
"é necessário!"
pela dor
perpasso
percorro o
percurso
das águas
rememorio-me

da dor
ao amor
saltito
tropeço
recaio
no fundo
do poço
o mais fundo
que posso.

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