Porque a esfinge é um bicho feio

Eu, enfinge de duras garras, na tua frente proponho-te um enigma assim, de duas pontas:
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De um lado eu inteira, nua, dançando numa corda bamba com uma sombrinha minúscula. Talvez use lindas sapatilhas de cristal, e a corda seja irreal. Se olhares bem, verá dos meus olhos escorrer sangue, ou lágrimas tão vermelhas quanto. Talvez eu esteja olhando para baixo, amedrontada, para jacarés famintos, ou uma horda de ostrogodos sedentos.
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Do outro lado, eu, mas não inteira, em pedaços. Uma compota-geléia-doce-de-casca feita da minha carne. O sabor é imperdível. Talvez eu ainda sorria o meu túmulo de açúcar, feliz por guardar doçura e paz. Acima do pote, é possível que enxergues gatos, cachorros e plantas: meus amores. Abaixo do pote, verás um grande gramado, onde nascem ervas de cheiros incríveis e curativas: meus aprendizados.
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Que lado escolherias, se para trás não pudesses regressar?
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Quem das duas senhoras poderia te saciar a sede e amor e devoção?
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Repara mais um pouco.
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Aprende quem sou de um lado e de outro.
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Observa.
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Olha ainda.
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Não vês?
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Compreende a esfinge que te olha a espera do beijo redentor:
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Ela ainda sou eu.

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